Hoje por volta das dez horas ao acompanhar um colega de trabalho num determinado ponto da obra em que estamos percebi uma criança no chão com pouco mais de 2 anos de idade chorando de uma forma um tanto quanto peculiar... Não era um choro simples infantil desses que passam desapercebidos era choro de fome e abandono, me aproximei e percebi então uma realidade triste... a minha frente deitada a porta de uma casa simples de adobe sem portas estava uma senhora acometida de malária, sua feição exprimia o sofrimento de tal moléstia, seu estado era preocupante já não conseguia mais manter-se em pé e nem cuidar daquela pequena que estava aos prantos lhe rogando um pedaço de pão, aproximei-me da senhora e pude perceber que a mesma estava acordada com seus cabelos desgrenhados roupas puídas e empoeiradas de alguém já habituada com os revezes da vida. Seu semblante porém apesar do sofrimento ao abrir aqueles olhos sem alento denotou-me uma paz e uma doçura que por um breve momento me fez esquecer que estava diante de uma pessoa acometida por um mal que se não for bem tratado traz a morte por conseqüência, lhe perguntei o que se passava e ela docemente me respondeu que não tinha condições de comprar os remédios que um médico lhe havia passado...
Jamais poderei esquecer a doçura que aqueles olhos expressaram...
Um feliz natal para todos vcs que acompanham ou visitam o Poesia na Foto, agradeço a paciência de acessarem e lerem o que escrevo, agradeço todo o carinho dos comentários e a nobreza da vossa atenção. Feliz 2011!!
JP
O doce da tua alma não é doce de açúcar
Nem é feito no fogão
Foi feito em meio a dor
Em conflitos que a vida marcou
Veio do sofrimento
Em pisaduras sem argumentos
No silêncio da noite
Amparada pela fria madrugada
Dos rasgos indiferentes singelos
Feridas das lutas batidas
O doce da tua alma não é doce de açúcar
Nem é feito no fogão
Foi feito com sofrimento
Com a partida dos eternos
Da ingratidão dos ternos afetos
Da feitura diária deste pão
Amassado em meio a choro
O doce da tua alma é o doce que resulta
Da gente simples de luta
Que não deixa nunca o amargor dos dias
Encobrirem a doçura que há em ti.
É meu nego, você soube direitinho transmitir a beleza e a doçura em meio ao sofrimento e a dor dessa pessoa. Uma bela leitura de vida. Saudades de vc....
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUm poema feito para rasgar a alma de quem o lê. O jogo metafórico usado pelo paradoxo do doce da alma associado à dor, ao sofrimento retrata a condição do eu-lírico a ponto de ele sair do poema e criar vida, se mostrando na face do sertanejo de pele enrugada, no camelô, no bóia-fria, no flanelinha, etc. Em teus versos vê-se a marca da poesia social que não se cala diante das mazelas da vida e procura através da arte da palavra chamar a atenção para os problemas que afeta a sociedade. É preciso ser muito sensível para entender a dor desse caos provocado pela desumanização do homem e que apesar desse sofrimento representado pelo eu-lírico ainda se pode ver doçura em seus gestos. Teu poema tem a marca de Ferreira Gullar.
ResponderExcluirFerreira Gullar, complicado... Brigado pelo carinho e pela mensão... Por causa do teu comentário voltarei a escrever.
ResponderExcluir